A sutil arte de levar um esporro
Como os esculachos, ao longo da minha carreira, me fizeram crescer profissionalmente, e por que você deveria se levar menos a sério
Como executivo, tive alguns privilégios na minha vida: conheci três presidentes do meu país, viajei para mais de dez países, mas nada me fez crescer mais que alguns esporros que levei pelo caminho! Levar um esculacho não é sobre humilhação, mas sobre aquele puxão de orelha que te coloca nos trilhos e mostra quão melhor você poderia ter sido.
É como um banho gelado. É uma merda, mas você acorda!
O psicólogo social Jonathan Haidt, um dos meus autores favoritos, discute o assunto em A Geração Ansiosa, obra que trata de como as redes sociais impactaram especialmente a Geração Z. Em determinado ponto, ele resgata o conceito de “antifrágil”, de Nassim Nicholas Taleb, que propõe que indivíduos se fortalecem em meio à adversidade e ao estresse.
O grande ponto de Nassim é que ele demonstra que sistemas que evitam o estresse se tornam, justamente, mais frágeis! Não se trata de estimular ambientes tóxicos e muito menos o assédio moral, mas de entender que o crescimento também implica em desconforto tolerável, o que obviamente não inclui o último álbum da Taylor Swift!
Tudo tem limite.
Não sei o que aconteceu de uns anos para cá, mas as pessoas pegaram verdadeira aversão a conversas difíceis. O problema é que não é possível crescer sem passar pelas dores que o crescimento exige, a não ser que você seja coach ou estelionatário, o que é praticamente a mesma coisa.
E note: tenho aversão ao conceito de meritocracia. Principalmente em um país em que as pessoas partem de pontos totalmente desiguais. Assim como também não gosto muito da expressão “resiliência”.
Em física e engenharia, resiliência é a capacidade de um material absorver “energia elástica” quando submetido a tensão e, depois, retornar à forma original quando a tensão é removida, sem deformação permanente. É o famoso “enverga, mas não quebra”. Só que isso é uma metáfora. Não deveríamos testar as pessoas ao limite de quebrarem, cacete!
Anos atrás, em 1900-e-vovó-menininha, apresentei um projeto para um então CEO de uma grande empresa. Cheguei “me achando”, apaixonado pela minha própria voz, com ares de TED Talk . Quando alcancei os primeiros dez minutos da minha “palestra”, fui interrompido:
Ibiapaba, isso que você está me apresentando é o “como” fazer. Estou cagando para o “como”. O “como” é problema seu. Eu quero saber “o quê” você vai fazer, pra eu poder te cobrar depois. Podemos falar sobre “o que” vai ser feito?
Isso é um esculacho bem dado: pragmático, tecnicamente perfeito e com um palavrão bem colocado!
Guardo com carinho.
Ninguém está livre de críticas. A questão é o que você faz com elas.
No meu caso, primeiro fico puto. Sim, sou vaidoso. Foda-se.
Depois, com calma, analiso e procuro os pontos de melhoria.
Mas a verdade é que não podemos nos levar tão a sério. No dia que você acreditar que você, realmente é foda, desculpe, mas estará na hora de levar um esporro!
Afinal, não importa quantos presidentes você tenha conhecido ou quantos países você tenha visitado. Ninguém está imune a críticas. A questão é como você lida ou reage. Se cresce, chora ou pede pra sair.
Eu prefiro crescer. De preferência sem levar um esporro!
Nossa, não poderia deixar de te acompanhar, excelentes textos.
Seguindo você. 🙏