Como a IA pode te transformar num Super Herói
O problema é que sem as bases corretas nem mesmo a Marvel dá conta do recado
Gosto de pensar nas Inteligências Artificiais como uma espécie de superpoder, um tipo de "soro do aprimoramento" tal qual criado no universo de Stan Lee, gênio dos quadrinhos que moldou boa parte da cultura pop contemporânea. Quem assistiu aos filmes da Marvel ao longo da última década sabe que Capitão América, Soldado Invernal, Peter Parker, Feiticeira Escarlate, entre outros, receberam seus poderes graças à invenção ou à cagada de alguém dentro de um laboratório. Todos esses personagens, porém, possuíam algo em comum: potencial para desenvolver suas habilidades. O mesmo acontece com o uso das inteligências artificiais. Quanto melhor o material humano, melhor o resultado e o superpoder adquirido.
Isso é bom e ruim ao mesmo tempo.
Diferentemente de outras tecnologias, o nó da inteligência artificial não está simplesmente no acesso à ferramenta. Não se trata de uma função técnica como produzir planilhas no Excel, resolvida com o aprendizado de fórmulas e padrões.
Técnicas de prompt amenizam, mas não resolvem a questão.
O uso das IAs exige algo mais profundo e cognitivo. Envolve a formação de cada um, suas bases culturais, repertório e referências. De nada adianta uma pessoa ter acesso a todo o conhecimento do mundo se ela não tem condições de explorar por não possuir as referências necessárias para saber por onde começar.
Isso é triste e perigoso.
Triste porque deixamos de aproveitar o potencial de muita gente que poderia se beneficiar desse superpoder. Perigoso porque aprofundamos, mais uma vez, a diferença derivada do fosso educacional da nossa sociedade.
Bons ficarão ainda melhores, aprimorados. Enquanto a média permanecerá... na média.
Parte da frustração de usuários com resultados rasos no uso das IAs provavelmente advém da falta de profundidade da pesquisa. Estruturadas sobre bases frágeis, sem contexto e, acima de tudo, sem o conhecimento básico para alcançar algo mais sofisticado.
Em outras palavras, esse novo soro do aprimoramento carece de um bom hospedeiro para florescer. E a pergunta que fica é: o que, raios, fazemos com isso?
O psicólogo social Jonathan Haidt, autor de livros como "A mente moralista" e o mais recente sucesso "A geração ansiosa", que discute os efeitos deletérios das redes sociais principalmente sobre a Geração Z, traz algumas pistas em suas pesquisas. Ele alega que, mesmo nas melhores faculdades do mundo, os alunos demonstram dificuldades em ler textos mais longos e complexos. Efeito do vício nas redes sociais ancoradas por descargas dopaminérgicas a cada reels de interesse.
Se as IAs são o soro do aprimoramento, as redes sociais são a kriptonita da era moderna. Aqui entra um conceito da economia chamado "custo de oportunidade", empregado originalmente pelo economista Friedrich von Wieser, em 1884. Em sua obra, ele analisou a renda líquida gerada pelo fator de produção em seu melhor uso alternativo.
De forma simplória, se eu tenho um terreno e o transformo em estacionamento, pode ser um bom negócio. Mas se, no mesmo lugar, houver a possibilidade de construir um prédio residencial ou o Quartel General dos Vingadores, o custo de oportunidade muda e o empreendimento imobiliário pode ter um retorno muito mais interessante.
E o custo de oportunidade de algumas redes sociais é altíssimo. Elas drenam a atenção das pessoas, principalmente crianças e adolescentes, num infinito scrolling que leva a lugar nenhum.
Drenam, junto, a oportunidade de desenvolvimento cognitivo. Uma oportunidade que poderia ser aproveitada com tantas ferramentas incríveis que existem hoje.
O mais incrível é que nunca, na história da humanidade, houve tanta informação de qualidade disponível de forma tão farta e barata. Nem mesmo a barreira da língua é mais um problema, graças à IA e seus superpoderes.
Vamos a um exemplo.
No YouTube, encontrei um Ted Talk da pesquisadora Tali Sharot, que trata de comportamento humano e como conquistar melhores hábitos. Após assistir ao vídeo, usei a ferramenta NotebookLM do Google, inseri o link e pedi que organizasse as informações em formato de estudo de caso.
Deixei o resultado aberto neste link para que você possa conferir. Caso tenha dificuldades com o uso da ferramenta, me envie um direct que eu te ajudo.
Seja como for, imagine o superpoder de conseguir organizar, de forma estruturada, todos os podcasts interessantes que você tiver contato. Aulas gravadas, PDFs, links e, acima de tudo, estruturar essas informações de modo a absorver verdadeiramente esse conhecimento e montar a sua própria biblioteca de conhecimento personalizado.
Como você acha que seria o seu uso de IAs a partir disso, conforme suas referências e repertórios sejam ampliados?
E nesse caso, sugiro o seguinte roteiro:
Selecione o assunto de interesse e procure as melhores referências: artigos científicos, aulas, entrevistas com especialistas, etc;
Suba esses conteúdos no NotebookLM e transforme cada um desses conteúdos em Estudos de Caso;
Salve cada um desses conteúdos em arquivos separados e gere PDFs;
Use esses PDFs como “base de conhecimento” para a criação de “assistentes GPTs” ou “Assistentes GEM”.
Certamente você ampliará os seus “superpoderes” baseados num conhecimento que você previamente assistiu, estudou, mas que pode ser organizado de uma forma a te auxiliar de maneira estruturada em suas atividades cotidianas.
Obviamente, a curadoria continua a ser um problema. Afinal, é possível montar uma super biblioteca sobre qualquer assunto: de construção de foguetes a terraplanismo.
Como diz meu pai, leva-se o burro à beira da água. Obrigar a beber não é possível. A não ser que você tenha superpoderes.
Fantástico, já estou te acompanhando por aqui! (: