O espírito do tempo
Vivemos em um tempo em que o "outro" deixa de ser humano e, como tal, merece ser cancelado, vaporizado, exterminado. O crime? Pensar diferente...
Uma das grandes dificuldades da vida talvez seja a compreensão da mera realidade, algo que, como já foi dito, existe na mente humana e em nenhum outro lugar. Na natureza, não há nada que se compare a nós, humanos, não porque sejamos melhores, mas porque somos os únicos capazes de relativizar até a própria existência. Não em nossa essência, mas na forma como nos reconhecemos no mundo.
Audaz seria de minha parte, mero observador da vida, cravar o que é realidade ou ficção, certo ou errado, num mundo em que só existe o bem e só existe o mal. Cada pessoa é convicta de que a virtude mora em si, e o vício, nos outros.
E quem são os outros? São todos aqueles “que não eu”, os portadores de tudo aquilo que deve ser combatido, corrigido, cancelado, vaporizado. São “despessoas” sem presente, passado ou futuro, estranhos que cometem o mais vil dos crimes em nossa sociedade cada vez mais distópica: o crime de pensamento. Um crime punido não com a morte física, mas com a morte social.
E assim, relativizamos e naturalizamos essa morte social, que nos afasta até mesmo de quem amamos, em benefício de um ódio que se converte em êxtase e orgulho. Onde ignorância é força. Amor é ódio. E liberdade, escravidão.



Muito Orwell em diversos níveis. Pensar é um movimento libertador e ao mesmo tempo perigoso. Maravilhosa reflexão, meu caro.
Nossa, concordo demais.