Por que o WhatsApp é coisa do Tinhoso

Por que o WhatsApp é coisa do Tinhoso

Se o dom da palavra é de Deus, certamente o WhatsApp é coisa do capeta. E os sete pecados capitais não me deixam mentir (sozinho). Consigo até imaginar a reunião de briefing do capeta desenvolvendo o projeto e apresentando pra Deus.

— Porra, méo (sim, o Diabo trabalha na Faria Lima)... Desenvolvi um projeto que, dessa vez, eu vou levar todas as almas comigo. Vou provar pra Você que a humanidade não tem jeito!

Ele, do alto de Sua benevolência, diz:

— A humanidade é Minha criação e nada os fará desviar do bom caminho, óh Portador da Luz. O que você traz, desta vez, Filho Caído?

— Um aplicativo. De celular.

Deus ri.

— Ele vai parar nas mãos do Zuckemberg — retruca o cão.

Deus se ajeita na cadeira.

— Tudo bem, tudo bem... Acho que não será o bastante — responde o Criador, preocupado.

Pela primeira vez em eras, uma divina gota de suor escorre pela testa d’Ele, e arcanjos foram convocados para uma reunião celestial de emergência.

Era tarde. Vinte e um bilhões de dólares mais tarde, em 2014, Zuckemberg compra o WhatsApp e aluga, para o Coisa Ruim, uma sucursal do inferno nas mãos de cada pessoa no mundo. Coisa de gênio. Numa tacada só, o Cramulhão escalou o negócio, ampliou a base de clientes e diversificou a oferta de produtos.

Pecados capitais ao alcance da mão.

A lógica do negócio é simples e nem precisou trabalhar no mindset da turma. Bastou criar o primeiro grupo de família e ali estava o protótipo perfeito. Assim que o primeiro Tiozão do Zap foi incluído, já emendou três pecados: soberbo, disse que esquerdista era tudo idiota; cobiçou a sobrinha e, invejoso, afirmou que o carro novo do irmão era uma bosta.

A sobrinha, petista, ficou irada e, em vez de retrucar o Tiozão do Zap, achou melhor ofender o primo, que era padre, chamando-o de pedófilo. O padre, que também cobiçava a prima — quinze anos mais jovem, confessou que tinha preguiça de responder esse tipo de falso testemunho.

A esposa do Tiozão do Zap ficou nervosa e descontou na comida. Postou um vídeo de si mesma comendo, com gula, bolo de chocolate. O Tiozão, avarento desgraçado, reprovou a esposa. Depois de um “oi sumida” no privado, Prima ninfeta e padre se entendem em um encontro luxurioso.

Sete de sete pecados em vinte minutos e o Diabo já pensa em abrir o Capital da empresa. 

Posso garantir que isso tudo aconteceu? Não posso.

Mas gosto de pensar que sim, e tenho bons motivos para isso.

Uma das coisas mais complicadas no WhatsApp é que ele é, de longe, o maior ladrão de tempo já criado. Não é de Deus. Definitivamente.

Grupos. Por que as pessoas criam tantos grupos?

Se você acompanhar todos, não faz outra coisa. Se não acompanha, toma bola nas costas. O que fazer? Rezar. Fora que há grupos de família em que as pessoas estão apenas com o propósito de cultivar o ódio. Certa está minha digníssima esposa que sai de qualquer grupo que não faça sentido para ela.

Todos. 

A maioria das pessoas tem receio de fazer isso porque, querendo ou não, existe um “custo de saída” por medo de parecer antipático. E assim ficam, como almas condenadas, sofrendo com postagens sem sentido e parentes sem noção.

Ponto pro Cão.

Outro problema: fake news.

O problema das fake news é que algumas parecem verdade.

E aí o que você faz? Gasta tempo checando, porque, dependendo do que for, se for verdade, pode afetar sua vida.

O Tinhoso sorri.

Comunicação assíncrona.

Desesperador. Há conversas que não demorariam mais que dois minutos, mas pelo WhatsApp às vezes nunca terminam. Ficam para o além.

Afinal, quem nunca deixou outra pessoa no vácuo que atire a primeira pedra.

O que nos resta fazer diante de tantas pecaminosas situações é rezar.

Livrai-nos dos grupos.

Amém.

Se você também acredita que esse aplicativo é coisa do capiroto, deixe seu comentário!